Monday, December 21, 2015

Aos meus amigos

É final de ano e o mundo começa a parar para analisar tudo o que fez ao longo dos últimos 12 meses. Bem... eu faço isso todos os dias, mas gosto também de fazer um balanço geral no fim do ano e 2015 foi, para mim, cheio de realizações, de verdade.

Foram muitos acontecimentos marcantes, mas acho que a maior mudança em mim veio quase no final do ano e é de natureza comportamental.



Sou uma pessoa em constante mudança. Acho isso importante. Já pensei que nossa essência é a mesma e não se altera jamais, mas hoje acredito que todo mundo pode mudar, basta estar disposto a isso. Como sou uma Darwinista convicta, acredito que mudar é evoluir e isso me faz estar ainda mais disposta a aceitar novas idéias para poder analisá-las e decidir se serão bacanas ou não para a minha vida. Se as acho interessantes não êxito em adotá-las, ainda que se mostrem ruins pouco adiante, casos em que volto um passinho e tudo fica bem mais uma vez.

Uma das coisas que sempre valorizei muito na vida foram meus amigos, mas este ano uma coisa mudou com relação a eles também. Por diversas vezes os tratei como família, desde adolescente, e este ano percebi que isso foi uma grande injustiça cometida por mim.

Há muitos anos eu sei que amigos são mais importantes do que família. Minha família é uma porcaria, sempre foi, mas, de alguma forma, eu ainda achava que a idéia de família era uma coisa boa e que eu tinha que considerar meus melhores amigos como irmãos. Que besteira! Deveria ser o contrário! Gente da família que é bacana é que deveria ter o privilégio de ser chamado de amigo!

Este ano me decepcionei com tanta gente que eu considerava foda (no bom sentido) que parei para pensar por um instante se eu também não decepcionava as pessoas. Escolhi as 5 pessoas mais importantes da minha vida para perguntar a elas se eu as decepcionava.

Mandei uma mensagem para 4 delas porque não as vejo todos os dias e perguntei para o quinto pessoalmente.

O resultado foi fantástico!

A primeira resposta que me chegou tinha três itens: um deles era uma suposição sobre minha situação, o outro era uma projeção de um desejo e o último era uma reação a um comportamento meu que eu realmente preciso trabalhar, não que eu vá mudar as minhas decisões, mas preciso mesmo mudar meu comportamento com relação a opiniões que vão contra o que eu acho/quero e já estou mudando.

A segunda resposta foi simplesmente a salvação das minhas angústias! Esta pessoa maravilhosa que tenho na minha vida me fez perceber que parte das minhas decepções derivam das minhas projeções, do que eu espero que aconteça e não do que as pessoas realmente são. Algumas pessoas que me conhecem pessoalmente podem me considerar extrovertida, tagarela, alegre e saltitante, mas sou, na realidade, muito reservada. Quando estou quieta (pode não parecer, mas estou quieta a maior parte do dia) estou sempre pensando na minha vida, fazendo análises, chegando a conclusões, mudando de opinião e começando tudo de novo... Depois da resposta desta amiga me tornei uma pessoa ainda mais quieta. O que antes eu despejava pela boca em determinadas situações, hoje me calo para pensar a respeito e tirar conclusões ainda mais racionais. Especialmente na Internet! Parei, definitivamente, de entrar em atrito com pessoas pela Internet, primeiro porque li um texto muito preciso sobre como as pessoas não querem conversar sobre coisa alguma online, querem apenas vomitar suas opiniões e segundo porque parei para pensar antes de escrever a primeira coisa que me vinha na cachola. Esta pessoa me fez crescer imensamente em duas mensagens do Whatsapp!

A terceira resposta não chegou... bem... mais ou menos... A terceira pessoa disse que aceitava o desafio, mas que tinha que pensar bem a respeito. Justificou a hesitação em responder com um artigo fantástico que também mudou a minha vida em um link! Me apresentou a CNV (texto completo neste link), comunicação não-violenta. Eu já tinha até escrito alguns textos sobre como os discursos de ódio andavam me assustando/preocupando, cada vez mais presentes e que, pouco a pouco, extinguiam as possibilidades de conversa e, conseqüentemente, de enriquecimento cultural. O artigo veio para iluminar esta minha preocupação e me estimular a participar do movimento que tenta frear o comportamento violento. Concluí que a estratégia é amenizar os discursos e ir com calma (muito diferente de ser trouxa) e está funcionando. Me sinto muito melhor quando tento mostrar um ponto de vista diferente suavemente, mesmo que a resposta seja uma ofensa gratuita. O sentimento é muito maior do que quando eu respondia diminuindo o interlocutor com um caminhão de fatos que justificavam lindamente meu ponto de vista, mas que terminavam por ofender o outro. Eu podia ganhar a discussão, mas perdia alguma coisa pelo caminho, talvez um pouco de respeito pela opinião alheia ou algo nesse sentido.

A quarta resposta chegou bem depois, tão fofa quando a pessoa e, mostrando, assim como eu, uma reflexão sobre si mesma formidável! Ao longo da resposta acabou meio que desistindo do argumento percebendo que era apenas uma projeção de expectativas dela mesma. Terminou numa auto-análise que me deixou orgulhosa e a fez um pouquinho melhor naquele momento, imagino eu. Uma resposta que veio meio em forma de análise (quem precisa de psicólogos quando se tem amigos? Hahaha) e que fez duas amigas melhores.

A quinta resposta demorou porque a conversa tinha que ser pessoalmente e eu não sou muito boa nisso... mas também me pegou de surpresa. Veio com uma comparação de pontos de vista que eu não tinha parado pra pensar também. E me acalmou a alma. Muito!

Fazer esta “verificação” não foi tarefa fácil... fiquei bastante apreensiva com o que ia receber de volta e me auto analisando durante todo o tempo que esperei pelas respostas. Isso também foi uma experiência interessante de auto conhecimento. Me fez avaliar vários aspectos sobre mim mesma por antecedência e me fez mudar várias coisas por conta própria, que já começaram a refletir de maneira mais positiva no meu relacionamento com as pessoas. No final das contas, o maior aprendizado foi mesmo o de não me permitir projetar expectativas nos outros e, como sempre (sempre mesmo) valorizar a empatia, se colocar no lugar do outro para entendê-lo melhor. Não estou nem perto do ponto em que gostaria de chegar... ainda tenho muito a desenvolver neste sentido, ainda projeto muito e ainda me “decepciono” muito, mas já tenho a consciência de que é culpa minha e agora já posso começar a trabalhar melhor com essa limitação. Quem sabe, um dia, chego ao Nirvana e passo a aceitar completamente as pessoas como elas são sem criar personagens na minha cabeça?

De uma coisa eu tenho certeza nisso tudo: o provérbio chinês

“O medíocre fala de pessoas.
O comum fala de fatos.
O sábio fala de idéias.”

é uma das afirmações mais exatas que eu já ouvi em toda a minha vida. Conheço este provérbio há anos e há anos ele se aplica perfeitamente!

Só tenho a agradecer por ter os amigos mais sábios que uma pessoa pode ter. Não apenas os 5 referenciados no texto, mas também outros poucos que tanta diferença fazem na minha vida! Vocês fazem de mim uma pessoa melhor e eu espero tê-los ao meu lado durante toda a minha existência! Muito obrigada por me ensinarem a viver!

2 comentários:

vida e natureza said...

Depois de ler atentamente seu texto posso dizer sem medo de errar que voce é uma pessoa muito corajosa, mas, também seus cinco amigos(as) que responderam ao seu chamado.
Coragem sua em perguntar e coragem de quem respondeu com toda sinceridade e na expectativa de a resposta não te magoasse.
Tudo que voce aprendeu acabou ensinando a todos que participaram da enquete.
Essa enquete trouxe certa lucidez para os dois lados.

Estou feliz de ter participado, mas, mais feliz ainda de ter sido uma das cinco pessoas, por isso agradeço muito.

Amo voce

Thais Roland said...

Que gostoso saber que um ato de coragem melhora todo mundo. :) Pratiquemos mais daqui pra frente.

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