Até que um belo dia o amor romântico me pegou desprevenida e me fodeu, foi mesmo algo devastador que me fez voltar com toda fé para o lado racional e pedir desculpas no espelho por ter acreditado neste tipo de relação idealizada e que em muitas situações era algo manipulador e altamente desgastante. Claro que também aproveitei o momento no espelho para agradecer a fagulha de racionalidade que ainda existia dentro de mim e que me ajudou a acabar com aquele ciclo vicioso altamente nocivo.
Passei um bom tempo passeando pela vida entre uma relação e outra, mas sempre rolava algum tipo de comportamento desagradável da outra parte: mau humor, dependência, ciúme, padrões machistas, entre outras coisas. Eu até tentava tolerar, justificando que podia ser a fase ou que não teria problema mudar um pouco, mas a verdade é que minha tolerância já não era mais a mesma.
E então eu resolvi ficar comigo, sempre achei este papo de aprender a estar com você para estar com alguém pura balela, mas não custava tentar.
Foi ótimo, descobri que estar comigo não era estar sozinha, que dava para estar com alguém, que também dava merda algumas vezes, mas que o fim daquilo não era toda aquela comoção de quando eu mantinha relacionamentos simbióticos. Que quando tudo acabava ainda existia eu, sem aquela dúvida de quem eu era, do que eu gostava mesmo de fazer, sem a quebra de rotinas super engessadas baseadas na vida alheia.
Ter consciência de que a outra pessoa não sou eu e que a minha vida não é "nós" não me impede de sentir saudade, mas faz com que eu primeiro resolva as minhas coisas, não evita que eu afunde o nariz no travesseiro para sentir o perfume que ficou ali, mas faz eu apreciar todas as noites que tenho a cama só para mim. São milhares de coisas que eu consigo reconhecer que acontecem só porque hoje sei estar comigo, mas como ainda tenho uma boa parte romântica, as que mais me impressionam são: a falta daquelas brigas típicas de relacionamento e a possibilidade de dizer (e escutar) um não sem causar a terceira guerra mundial.
Leve também é não precisar renunciar de si mesma.
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