Faz muito tempo que não caio mais desavisada em algumas armadilhas de como somos ensinadas a viver a vida, mas vendo esta polêmica do comercial e como algumas mulheres ainda usam a frase "eu me arrumo para mim e não para os outros" fiquei pensando em como isto dominou minha vida durante toda a adolescência e como talvez naquela época isto tenha contado mais para a minha baixa auto-estima do que para aumentar minha auto-confiança ou auto-estima. Vou explicar:
Lá pelos meus 12 anos eu já estava cansada de não ser da turma das "bonitas", das que já tinham "namoradinho" (naquela época não existia esta liberdade sexual para crianças e adolescentes como vemos hoje), aí quando finalmente pude alisar o cabelo eu achei o paraíso, finalmente seria como as outras meninas que jogavam seus cabelos e franjas p/ lá e para cá.
Mero engano, não parava por aí, ainda não conseguia ser elas, aí então vieram as roupas, tinham que ser curtas, apertadas e decotadas, para isto tinha que emagrecer, tinha que usar salto (independente de você ser alta ou baixa) e aí lá fui eu: decotes, saias curtas, salto alto, unhas compridas, maquiagem e etc etc.
Não foi o suficiente, eu até comecei a andar com as mais "bonitas", mas mesmo assim não recebia os mesmo elogios, não era paquerada pelos meninos, eu era a amiga que andava na turma dos descolados. Neste momento os mais zombeteiros podem pensar: então você era feia mesmo pô!!
É justamente isto, não só tinha certeza que era realmente "feia" como também seguir todos estes padrões de beleza só contribuíram para a minha baixa auto-estima, porque nenhum tipo de dedicação e horas perdida no cabeleireiro era suficiente para eu receber o que as outras meninas recebiam e pasmem: isto acontece com muitas meninas, de todas as cores, corpos e estilos.
E eu "me arrumava para mim", mas não porque eu me achava melhor quando me olhava no espelho, corrigindo, na hora que eu olhava no espelho eu me sentia melhor, eu achava que ia ser aquele dia que eu ia abalar na balada, que seria paquerada por todos, mas aí quando eu chegava lá e isto não acontecia eu me sentia péssima. Então na verdade eu não me arrumava pra mim, me arrumava para os outros validarem que eu era uma pessoa bonita e desejada.
Aí sabe o que aconteceu, eu resolvi assumir que era feia mesmo, porque todo este trabalho para ser bonita e sempre tendo que se superar a cada dia e mesmo assim nunca trazia o que eu esperava?
"Assumir" que sou "feia" me fez parar de alisar o cabelo, parar de deformar meus pés com sapatos de salto, parar de ficar uma tarde inteira na academia para manter o corpo perfeito, hoje em dia vejo as fotos da minha adolescência na época que era rata de academia e mesmo assim me achava gorda e penso: porra, eu era gostosa, eu era linda. Que merda eu fiz? Se eu tivesse consciência disto aquela época minha adolescência teria sido bem diferente.
Quer saber o que aconteceu depois que eu fiquei feia? Foi quando eu comecei a viver as melhores épocas da minha vida. Eu comecei a ver que mesmo eu sendo quem eu gosto de ser (sem maquiagem, sem salto, sem neuras de peso), mesmo assim tem muita gente que gosta de mim e me acha bonita e não vai se assustar se um dia acordar do meu lado ou me ver debilitada num dia de cólica e afins.
Quando me arrumo para mim? Quando coloco uma roupa confortável e me sento no sofá para assistir Netflix e se chegar a pessoa que eu gosto eu vou continuar tranquilamente do mesmo jeito que estou, sem correr para mudar roupa, colocar maquiagem e qualquer outra coisa. Se estar maquiada e vestida como "mulher" é quando me arrumo p/ mim, deveria ficar assim até quando não tem ninguém olhando.
Ainda uso maquiagem, ainda faço exercícios, ainda tenho saltos, ainda uso decotes, saias e vestidos, mas consigo distinguir quando faço isto para tentar simular um personagem que pretende receber elogios e efetuar conquistas ou quando sou obrigada a isto no ambiente de trabalho, já que as pessoas não te esperam em uma reunião séria com pessoas importantes de calça jeans e All Star. Estarei lá "bonita", mas te garanto que não será p/ mim, será para os outros mesmo.
Tem dia que tô de boa no sofá e vou lá fazer a sobrancelha no espelho e nem vou sair, às vezes estou até de férias, vou ficar em casa o tempo suficiente para ela crescer de novo e ninguém ver. A lógica é que eu não preciso deixar de me adornar/enfeitar/maquiar, pois isto é comum em várias culturas, o que eu tenho que saber é que não preciso me adornar no padrão que é imposto pelas propagandas, talvez o que te deixa confortável não é o "padrão" e tentar ser o que você não é mata sua beleza natural.
Voltando ao comercial, as mulheres chegam "bonitas" na assinatura do divórcio, isto não muda nada, nem o divórcio e nem a auto-estima delas, só escraviza, se elas gostassem mesmo de ser assim estariam assim todos os dias e não apenas porque isto é "bonito". É só pegar os padrões de maquiagem em cada década, não existe o que é "belo", existe o que te impõem que é belo.
Se ser bonita é isto, tô feliz sendo feia.
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