‘– Então você não se importaria de ver sua namorada com outro cara!?’
‘– Você é corno e gosta! É o verdadeiro corno-manso!
‘– Ai, que horror! Se eu soubesse que meu marido ficou com outra, que nojo. Vocês são é... doentes!’
‘– Opa, sua mina é gostosa? Posso dar uns pegas nela, então?’
Leitores e leitores que vadiam por alamedas bonitas e enganosas, quebradas perigosas mas honestas, ruas amplas e assustadoras de tantas possibilidades, todas paragens alegóricas que encerram as desditas e êxtases da vida amorosa, desse amor sempre vadio que procuramos:
Já ouvi essas e outras obras magnas, nada mais que expressões do pensamento tacanho, da visão de mundo limitada, do fascínio pelo controle castrador, da sanha moralista, da má-consciência trazida pela infelicidade, do recalque violento e da inveja mal-oculta, algumas tantas vezes, desde que eu e uma dama muito especial decidimos, de comum, total e livre acordo viver um relacionamento aberto, que o divertimento e a pena já estão sobrepujando a indignação, quando disparo a informação para meu pobre e indignado locutor. Cumpre informar que se de início, idealista e fiel dos valores da contracultura que sou, eu anunciava a forma de relacionamento praticada por mim e minha amada para afirmar nossa condição de pessoas que tentam viver uma vida minimamente diferente da mediocridade absoluta na qual a quase totalidade da medíocre espécie humana chafurda com alegria e orgulho, algum tempo depois passei a fazê-lo, irritado e desiludido com esse bando de macacos pelados que se acha o centro literal do universo, principalmente pela satisfação de causar espanto, horror e indignação nessa gente tão regrada, decente e ‘família’.
As pessoas normais (não merecem aspas, pois são normais mesmo, no mais triste e infeliz sentido do termo) nos julgam uns animais selvagens sem o menor rastro de escrúpulos ou racionalidade, isso para não citarmos nossa absoluta falta de moral, o que para elas dá no mesmo, pois os praticantes da monogamia burguesinha-cristã-feliz(ha ha ha!!!) consideram sua moral a única possível e este texto quixotescamente tenta, seguindo esse idealismo sessentista do qual não quero e não consigo me livrar, mostrar que negar uma dada regulação para as relações sexuais e amorosas não significa não possuir regulação alguma.
Para trazer luz a esse tema que pelo visto indigna e excita tantos (e creiam, essa indignação não passa de excitação muito mal disfarçada para muitos, a cara de excitação e o brilho nos olhos que estampam seus lindos rostinhos, ao vociferar contra essa ‘safadeza’, dá uma bandeira tremenda do quanto isso os excita), alguns pontos devem ser explicados para assim calar, com a força de verdades e definições simples, a gritaria das criancinhas histéricas que fingem ser adultas. Então, cara leitora ou caro leitor, saiba que:
1) liberdade de se relacionar com outras pessoas não é licença para ‘aprontar’ qualquer coisa sem pesar consequências. A possibilidade de ter relacionamentos, fugazes ou não, com outras pessoas, além de seu parceiro/consorte fixo implica em um senso de responsabilidade apurado. E é exatamente nesse ponto que as criancinhas histéricas começam a pôr suas boquinhas histéricas em ação. Dispôr de liberdade plena em um relacionamento implica em grande disciplina e respeito ao outro, implica em ser adulto de fato, em usufruir de uma liberdade sem ser tutelado por uma moral hipócrita e podre, em ser dono de si mesmo e não outorgar a responsabilidade de seus atos, mancadas e burradas inclusas, a um ente qualquer, seja os tais padrões morais, as autoritárias figuras parentais, papai do céu, o que seja. E isso apavora ao extremo, viver por sua conta, sem ser comandado pelo medo e pela culpa é intolerável para praticamente toda a humanidade. Faço uma citação nada erudita ou ‘cool’ mas perfeita para definir esse medo, uma fala de Kid Eternidade, história em quadrinhos adulta de temática mística, escrita por Grant Morrison: “cagados nas calças, um medo doido de qualquer coisa que possa virar o status quo.” Deu para entender, né?
Não é mera coincidência que a imensa maioria dos que se horrorizam com a simples menção a um relacionamento aberto se declarem cristãos – se praticantes ou não, é outra questão, mas já disse que essa gente é hipócrita ao extremo? Se sim, desculpem a redundância. Praticar relacionamento aberto, se os praticantes realmente amam e respeitam seu parceiro/namorada(o)/cônjuge principal implica em tomar cuidados para evitar que consequências desagradáveis adentrem a vida do casal, pois acredite, também queremos e desfrutamos de momentos apenas a dois.
2) Estamos libertos, portanto, dos sentimentos e sensações que assaltam a todos envolvidos em um relacionamento? Claro que não. Embarcar em um relacionamento aberto pressupõe admitir nossa falha mas sincera humanidade, é reconhecer e lidar, sem meias palavras ou vergonhas tolas, típicas das crianças crescidas problemáticas que são a imensa maioria dos adultos, com emoções como ciúmes, sentimento de posse irracional, medo e quetais. Enfrentá-los, conhecê-los (e por conseguinte conhecer um pouco mais a si mesmo), dominá-los e assim realmente crescer um pouco, ser um pouco mais adulto, é um dos objetivos dessa joça, oras! Então o caro AlexB sente ciúmes de sua consorte, quando fareja que houve um lance entre ela e outro sujeito? Sim, cara plateia estupefata, sinto ciúmes, mas luto bravamente contra esse sentimento mesquinho, pueril, baixo, primitivo e para decepção de boa parte tenho me saído muito bem nessa refrega contra ele, assim como a moça com qual traço relações também tem se saído, ao se defrontar com essa coisinha desprezível que vocês tratam como um monstro de poderes ilimitados e ainda se orgulham de ser escravos dele!
3) Esquentar, incendiar, apimentar, aquecer a vida sexual, use o termo idiota que quiser, típicos dessas revistinhas de mulherzinha classe média bem-resolvida e eficiente, para definir a coisa. O fato é: insinuações leves, cifradas, apenas sugestões das relações experimentadas fora da vida a dois (não usamos ‘relações extra-conjugais, esse termo é ridículo para nós praticantes das relações abertas, bem como traição e adultério: usá-los significa aceitar a moral burguesa-cristã; e é arquióbvio que a abominamos), joguinhos verbais, provocações com menções veladas aos atributos e desempenho de outros parceiros eventuais (ou nada veladas, tem casais em que cada um descreve detalhadamente suas outras transas, dando inclusive nome e sobrenome do parceiro e isso faz a coisa pegar fogo), enfim, algumas provocações, antes e durante o sexo, é um ótimo aditivo. Ficou com nojinho? Ótimo!!!
4) O prazer, ora bolas. Relações com outras pessoas ensinam novas práticas, maneiras, técnicas de se obter maior satisfação sexual, sair da mesmice de dois corpos que ao fim e ao cabo são limitados, se amoldam um ao outro em excesso, depois de algum tempo de intimidade, e esse aumento de repertório é algo fundamental. Em termos mais simples para os simples mortais entenderem: relacionamento aberto, se conduzido com maturidade, ética e cuidado, melhora a vida sexual do casal. Criançada, acorda, a espécie humana não é monogâmica, se essa afirmação te escandaliza, então você faz parte do grupo dos que morrem de vontade de fazer algo e descontam sua covardia e frustração nos que fazem isso sem culpa.
Concluo esse texto com uma reflexão metida a filosófica, como sempre faço na minha tranqueira particular, o Noites Cafajestes e Alguns Dias Canalhas: nós humanos precisamos de ilusões, acreditar em algo fictício que nos dê coragem, conforto, ou nos inspire medo. Todos acreditamos em algo e isso deve ser respeitado, desde que essas ilusões não sejam impingidas à força para outras pessoas. Assim, há pessoas que acreditam em papai noel, há pessoas que acreditam em bicho-papão, coelhinho da páscoa. E há pessoas que acreditam em monogamia! Eu e tantos outros optamos por abdicar de boa parte das ilusões.
Saudações canalhas e cafajestes
Wednesday, September 27, 2017
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