Friday, January 1, 2016

Mais um ano pra aprender a se relacionar

Não acredito em “melhores datas” pra mudar coisas. Começo dietas na quarta-feira (e as encerro com a mesma indisciplina de qualquer pessoa não disposta a manter a dieta. Hahaha), paro pra refletir sobre minhas realizações em qualquer dia de qualquer mês, dou presentes quando acho algo que combina com a pessoa em vez de esperar pelo aniversário... enfim, acho que a mudança deve acontecer no momento da decisão, até porque já sofri muito por adiar iniciativas esperando pelos melhores momentos.



O ano de 2015 foi repleto de momentos de reflexão pra mim e eu também mudei muito ao longo dele. Não precisei esperar o ano novo para decidir que não queria mais ter preconceito contra nordestinos, por exemplo (texto aqui). E não precisei esperar o ano novo para colocar esta nova postura em ação. No exato momento em que realizei que o preconceito era uma ignorância mudei minha postura. É óbvio que não é assim tão simples. Se livrar de preconceitos, para mim, sempre foi um exercício de adaptação e este não está sendo diferente. Mas já me percebo parando de rir de piadas do tipo “que coisa de bahiano!” e deixando de concordar com os “tinha que ser bahiano mesmo” e derivados que ouço as pessoas dizerem. Não retruco, apenas deixo de concordar. É minha forma de deixar de ser preconceituosa respeitando o outro. Parece loucura mas, além de exercitar a CNV (texto aqui), acho que esta atitude também tem a ver com o fato de eu não acreditar mais muito no fato de o mundo realmente mudar como eu mudo.

Mas esta não foi minha única mudança drástica na forma de pensar no ano passado. Até... sei lá... ontem... eu era extremamente contra caridade. Calma! Não sou do tipo que queima mendigos na noite paulistana! Mas não acreditava em caridade, achava anti-evolutivo e não praticava...

Daí uma coisa muito interessante aconteceu... O casamento gay foi declarado legal em todo o território dos Estados Unidos no meio do ano. Foi um evento gigantescamente importante, um ato de respeito fantástico e extremamente comemorado. Todo mundo trocou os avatares das redes sociais para fotos com as cores do arco-íris em apoio à causa, inclusive aqui no Brasil, afinal, tem gays em todos os lugares e tem gente que acha que eles têm o direito de viverem como desejam em todos os lugares também...

Eu também mudei meu avatar e foi uma doideira o que aconteceu! Um monte de gente curtiu e mais um monte de gente atacou! Como se eu estivesse cometendo um crime ao apoiar a causa gay, que nada tem a ver comigo, ao invés de me preocupar com “coisas mais importantes”, tipo política ou sei lá mais o que. Aparentemente eu não posso apoiar mais de uma causa ao mesmo tempo. Hahaha. Tenho que decidir se quero ser amiga dos gays ou dos cães abandonados... as duas coisas ao mesmo tempo não pode!

A coisa chegou ao cúmulo de alguém postar a foto de uma criança africana à beira da morte (é uma foto conhecida nas redes sociais) com o filtro da bandeira colorida com algo do tipo “o dia que o mundo se mobilizar por algo assim eu vou concordar”. Achei aquilo nojento! Mas se era pra ser assim... fiz uma doação para a fundação Save the Children e postei o comprovante no post da pessoa. Até hoje estou esperando a ajuda do indivíduo como prometido.

De qualquer forma alguma coisa mudou em mim naquele dia. Eu fiz caridade! Pra provar um ponto, mas fiz... e me senti bem. Me senti melhor por ter feito a doação do que por ter provado que o cara era um imbecil e isso me fez parar pra pensar.

Tenho pensado nisso desde então... com muito cuidado.

Muita informação me apareceu depois disso e eu fui desenvolvendo uma reflexão em cima de tudo o que vi/li a respeito.
All human beings are born free and equal in dignity and right.
E a conclusão chegou hoje, lendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH aqui). Alguma coisa mudou de novo em mim. Acho que a raiva que anda tão presente na Internet me fez parar, dar um passo pra trás pra olhar melhor e analisar tudo de uma forma diferente.

No final, tudo parece ser motivo pra ódio. Se o cara é gay e você não, você odeia, se o cara é hétero, mas torce pra outro time, você odeia, se o cara é hétero e torce pro mesmo time, mas vota pra outro partido, você odeia, e por aí vai...

E não é um odiozinho, é uma raiva fora de controle que faz as pessoas se ofenderem e se atacarem com todas as forças. O povo chega a gravar vídeos pro Youtube xingando e chamando de idiotas todos aqueles que não compartilham da mesma opinião! E estes vídeos são compartilhados outra e outra vez com comentários ainda mais agressivos! É um descontrole total!

Estamos vivendo em um país completamente devastado pela corrupção (de todas as legendas partidárias possíveis) e as pessoas se agarram em ideologias falidas pra atacar amigos com ofensas inadmissíveis! E intolerância... muita intolerância! Ninguém quer conversar sobre nada, nem política, nem nada. As pessoas querem apenas arrotar suas opiniões e ofender qualquer um que se oponha. Só isso!

O mundo está ficando complicado!

O bom do Facebook é que você pode colocar um fim em todo o ódio clicando no mágico botãozinho Unfollow, ou ainda, nos casos mais drásticos, no glorioso botãozinho Unfriend.

Mas melhor ainda é que ainda existem pessoas bacanas, que pensam como eu e é dessas que eu me cerco. Não sei ainda se estou certa em deixar de brigar e tentar mostrar pras pessoas que está errado fazer desse jeito, mas não consigo fazer de outra forma, já que acredito piamente que não tenho o direito de obrigar ninguém a nada, nem a raciocinar, se não quiserem.

É uma época triste para se viver, mas não dá pra deixar de acreditar que ainda podemos aprender a ser animais (porque o humanos só fizeram merda até hoje).

Que em 2016 sejamos mais cachorros que humanos!

ADENDO

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é o documento mais traduzido do mundo (mais de 360 idiomas) mas deveria ser o mais lido!

3 comentários:

Fabiana GO said...

Eu imagino que qualquer dia desses vou comprar uma tonelada de cápsulas de nespresso,pregar as portas do meu apartamento e lá ficar em posição fetal, até o fim! O ser humano é tão falho que as vezes eu duvido da minha própria humanidade! Esse ódio, essa raiva é algo que não consigo conceber. É foda! Sobre a caridade: eu estou no caminho inverso. Sempre fui caridosa e sempre me fodi, então primeiro eu, segundo eu, terceiro eu. Amor, amizade e carinho eu tenho de sobra para dar, mas economicamente falando, caridade só te fode e atrai pessoas mai intencionadas.

Thais Roland said...

Olha, Fabi... Às vezes tbm duvido da minha humanidade!

Quanto à caridade, não virei dessas que leva sopa pra desabrigados não. Acho que fiquei um pouco mais humana, mas apenas quando a gentileza faz sentido, sabe?

O Save the Children mesmo já perdeu minhas doações com um milhão de emails pra mim.

Mas vc veja... outro dia meu melhor amigo estava voltando pra casa, sozinho, e o carro deu problema. Parou no meio de uma avenida super movimentada, mas como era tarde da noite ela estava às moscas, só com os moradores de rua rodeando. Quem o ajudou, sem pestanejar, foi o cara que fica pedindo dinheiro no farol pra lavar o vidro dos carros. A pessoa que mais precisa ser ajudada e que é solenemente ignorada todos os dias, foi justamente quem ajudou.

Acho que essa foi uma das coisas que renovou um pouquinho a minha fé na raça humana.

Sei lá.

Bela said...

Eu sou dessas que começa a dieta na segunda, acha que a virada do ano é de fato uma virada... enfim, sou de símbolos (aquelas mulherzinhas que vê significado em tudo e vai fazendo várias conexões) mas, quando se trata de pensamentos, não, esses a gente tem que colocar em movimento sempre e acho que sempre há um ponto de vista que meus olhos podem não ter alcançado.
Política sempre foi assunto em casa (muito importante por sinal) e, talvez por isso, foi o que me fez observar esse odio todo a que você se referiu.
O meu movimento foi olhar pra dentro como disse o Michael : "If you wanna make the world a better place,
Take a look at yourself and then make a change",
desde então tenho sido muito mais feliz.
O lema: "não faça aos outros o que não quer pra si", que sempre fez parte da minha vida, agora é lembrado com mais frequência ainda.
Bjos, Sua Linda.

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