Wednesday, March 13, 2013

A arte de perder...


Faz tempo que ando perdendo coisas, pessoas, a hora, o jeito, a paciência, o cuidado, a crença no todo e na existência, mas o legal de perder tudo é que chega uma hora que o vaso fica vazio e estamos dentro de uma nova onda sem perceber, quando nos damos conta já estamos prontos para perder novamente.

Semana retrasada adiantei a coluna por perder a noção dos dias da semana, semana passada me ausentei também pelo mesmo motivo, quando vi a quarta-feira já estava no fim e achei melhor perder aquele dia, deixar passar sem muita dor, sem muita culpa.

No final de semana comprei um livro, sem saber do que se tratava a história uma amiga me mandou o vídeo do Abujamra declamando um poema de Elizabeth Bishop e acertou em cheio, pois o livro é baseado em uma troca de correspondências entre ela e seu amor.

Apesar de estar distraída e perdendo muitas coisas, não estou com a angustia da perda e seria muito interessante se quando perdêssemos um amor (se isto for realmente possível) a gente encarasse desta forma.

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério. 

5 comentários:

Thais Roland said...

Li, esse texto não poderia ser mais perfeito pra eu ler hoje!
Há tempos atrás, perdi quase todos os meus dados num acidente com um HD externo. Achei que ia morrer! Baixei um milhão de programas pra tentar recuperar tudo e o pouco que ainda acabei perdendo mesmo me deixou chateada por muito tempo.
Essa semana o HD do meu notebook morreu tbm. Sei que tem um milhão de coisas nele que eu gosto muito e que talvez perca pra sempre tbm, mas não estou tão chateada quanto ficaria há algum tempo.
Talvez as experiências e as lembranças estejam, pouco a pouco, se tornando mais importantes do que as coisas.

Liana said...

Estamos pouco a pouco virando artistas, até parece que adivinhei quando ofereci o livro para que você fizesse a primeira leitura.

Como todo mundo é designer de alguma coisa hoje em dia, seremos Loss Designers. rs

Thais Roland said...

Hahahahahahahaha... Já to chegando no nível Senior!

Bela said...

Perder não é a minha praia, sofro demais; sempre. Talvez vá lembrar eternamente das coisas q perdi, pelo menos até hj isso acontece. Escorpianos e suas posses... mas, e sempre tem um mas, venho praticando o desapego, isso sim algo q posso lidar, afinal, foi "minha" escolha, embora saiba q esse tal de livre arbítrio é algo ideal, mas real?! Enfim...

Liana said...

Sempre fico pensando no livre arbítrio, às vezes acho que no fundo tudo sempre acontece como tem que acontecer e não tem nada de escolha, vc acha q escolheu, mas no fundo estava fazendo o pré destinado...rs

Acho que a terapia tem me feito trabalhar melhor com as perdas, ainda estou engatinhando, mas tô melhor.

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