Friday, July 19, 2013

As pessoas não têm mais tempo para um minuto de silêncio


Essa semana faleceu um jornalista muito importante do mundo automotivo, Marcos Zamponi e uma homenagem foi feita para ele no Auto Show Collection, evento de carros clássicos e tunados que rola toda terça-feira no Anhembi que onde eu trabalho. O Sr. Pagotto, que estava apresentando os carros do desfile disse algumas palavras sobre o amigo e pediu um minuto de silêncio, como é de costume em situações como esta.

No dia seguinte estava eu, no meu banho, lavando o cabelo (banhos longos rendem bons posts por aqui. Hahaha) e pensando neste assunto, quando me peguei meio chateada por não termos mais um minuto de silêncio durante um minuto de verdade.


A idéia do “um minuto de silêncio” é pensar na pessoa, pensar nas coisas que ela realizou, nas lembranças ou qualquer outra coisa que remeta à quem se foi, mas hoje não temos mais este tempo! Um minuto inteiro pra pensar numa pessoa que morreu parece tempo demais, então reduziu-se o “minuto de silêncio” para alguns segundos simbólicos, segundos que não são suficientes nem para lembrar do nome completo da pessoa.

Acho muito triste isso. Sou do tipo que gosta de pensar. Pensar de raciocinar e pensar de lembrar. Mesmo não tendo conhecido a personalidade comecei a pensar que eu estava ali, num evento automotivo, trabalhando com pessoas que o conheceram e que eu poderia chegar a conhecê-lo também, que poderíamos até ser amigos, já que temos um interesse em comum... Mas ao chegar nesse ponto dos meus pensamentos o “minuto” já tinha sido interrompido para que o evento prosseguisse.

Voltei a pensar nisso no meu banho e comecei a analisar que estamos reduzindo o todos os “minutos” de nossas vidas reservados para pensar nas coisas. Não separamos mais 60 segundos completos para pensar nos mortos e não separamos mais 60 segundos completos para pensar em nada. Tomamos decisões imediatistas e talvez seja por isso que nos pegamos errando tanto.

“Fazemos” não... me excluo desse grupo imediatista porque essa não é uma característica minha. Nunca foi. Gosto de usar os 60 segundos do meu minuto para pensar nas minhas coisas (apesar de não parecer, sou uma pessoa que leva muito, mas muito tempo mesmo para tomar decisões, principalmente se forem drásticas). O que observo é que as pessoas (a maioria delas, pelo menos) está agindo desta forma.

Ta aí uma coisa que gosto em mim e que não acho que deva mudar nunca. Paciência para tomar decisões é uma coisa que sempre me trouxe bons resultados, apesar de causar certo desgaste e sofrimento algumas vezes. Não consigo ver como decisões imediatistas podem contribuir positivamente em nenhuma situação, mas também não dá pra arrastar certas coisas por “tempo indeterminado”. É óbvio que é difícil achar uma medida ideal para esse tipo de coisa, mas para mim é claro como água que na “afobação” não se resolve nada muito bem.

3 comentários:

Sandra S. said...

Olha, eu tb me excluo dessa trupe dos imediatistas. Levo muito tempo para tomar as decisões, penso nos 2, 3, 4 ou 50 lados das coisas todas.
Mas o que vc diz é verdade… Tudo força essa 'correria' desenfreada hoje… É metodologia para tornar seu trabalho mais 'ágil', enviar um torpedo ao invés de fazer uma ligação, app p/ otimizar tempo e produtividade… E o que acontece com as pessoas é essa onda de tudo-aqui-agora. E quando tem alguém que não tá nessa onda, a pessoa é vista com estranheza por quem tá: 'mas o que está acontecendo? essa daí tem algum tipo de atraso mental?'. Quantas vezes eu me senti deslocada… e já cheguei até a ser chamada literalmente de lerda (coisa que me perseguiu por uns anos).
Acho que os 'tempos modernos' pedem alguma agilidade. Mas esse não pensar mais em nada (muito incentivado pela máxima 'tempo é dinheiro') detona essa capacidade das mais peculiares e admiráveis do ser humano, que é a de refletir.

Liana said...

É verdade o que a Sandra disse, esta sensação de que estamos errados por pensarmos antes de executar é muito chata, este imediatismo é um grande rolo compressor, deixa tudo muito raso...

Thais Roland said...

É, gente... a cada dia que passa percebo que fica mais difícil saber como devo ou não agir para me sentir menos deslocada do resto do mundo...

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