Wednesday, April 9, 2014

VA Convida: Friendzone e outros mimimis convenientes (Belise Mofeoli)

Freud não explica nada. Muito basicozinho para o meu gosto. E de todos os grandes furos dele, o pior foi a tal “inveja do pênis”. Papo furado! Não preciso ser homem para me auto afirmar. Não fui criada para sentir-me castrada. Aos 3 anos de idade ia ao baile da Carnaval fantasiada de melindrosa porque, nas palavras da minha mãe, "Melindrosas eram vanguardistas, ousadas e ditavam o estilo da época. Gostavam de dançar." O problema é que a maioria dos homens, ao que parecem, têm uma autoestima... exagerada. Amar-se é bom, mas é impossível obrigar alguém a nos amar ou nos querer. Frustrados com alguns “nãos”, – afinal, sempre tiveram tudo –, alguns membros do masculino começaram a propagar o termo ‘Friendzone”.

Quem já não ouviu afirmarem que homens se relacionam com mulheres mais pela aparência e as mulheres atraem-se mais pela índole? Bobagem! Isso pode se inverter. Acontece o tempo todo. E, na maioria das vezes, a verdade é que os dois aspectos contam. A meu ver, educação, respeito ao próximo, boa índole e inteligência são pré-requisitos e não qualidades. Exemplos de qualidade? Ser sexy, romântico, bom de cama, ter independência financeira, bom humor, gostar de crianças... Claro que não existe ninguém com todas as qualidades. Uma ou duas já bastam. Mas aí que o cara acha que só porque não é um mal partido, a moça DEVE sentir-se atraída por ele. E se os padrões dela e dele de bons partidos forem diversos? Dispensar uma boa amizade à toa?

Está cheio de mulher que só se atrai por gente mais velha. Eu não. Já perdi amizade porque após risadinhas sem graças e indiretas que sinalizassem meu desinteresse, parti pra grosseria com um homem com o dobro da minha idade que me constrangia insinuando em público que eu era a mulher da vida dele. Não rolou. Nunca rolaria. Dei bola foi para um outro amigo, bonito, fofo, uma graça! Péssimo de concordância verbal: não deu também. Parou de falar comigo. Há alguns anos eu me interessei por um cara lindíssimo, culto, mas gay. Não morri nem insultei ninguém por isso. Ele que ame quem quiser! Frustrações fazem parte do crescimento. Aliás, nos levam a ele. Adultos mimados são a consequência de crianças sem limites.

Da primeira vez em que escrevi para o Vadio Amor, fiz um texto intitulado “Balancete Amoroso”. Eu falava sobre os amores e não amores que passaram pela minha vida. Agora fico pensando na sorte que tive de encontrar seres equilibrados. Lemos noticias de vinganças absurdas sobre pessoas rejeitadas que chegam ao extremo das mutilações e assassinatos. Então me ocorre que o pior não é a falta do amor do outro, mas a falta de amor próprio. Atrapalhar a própria vida por vingança... Sério isso? Quem chega a esse tipo de extremo precisa de ajuda, sem dúvida, mas me faz entender o porquê do afastamento do antigo parceiro. Medo, né? Óbvio. O amor verdadeiro é generoso. Quando não correspondido, ele deixa partir.

Nas últimas semanas vimos pessoas declarando que mulheres mais recatadas, discretas, e por que não dizer “do bem”, têm menos chances de sofrer estupro. Oi?! E quem define os limites? Há os que considerem o rímel sensual demais para uma “moça de família”. Vamos ver se eu entendi: tudo o que uma mulher faz, não pode ser por ela, para sentir-se bem, tem mesmo, que ser pensando na reação de seres que, ditos civilizados, agem feito homens das cavernas, ou seja, por instinto?

Ela não quer o cidadão, ou quis e mudou de ideia, ou ele a teve e perdeu porque era um chato, ou ainda pior: um agressor (físico e/ou mental), ele se sente ofendido e resolve que se a quer, a terá, correto? Errado. Culpar o outro pelo não controle da própria libido é simplista demais. O que me faz relembrar da besta do Freud. Nós, mulheres, não precisamos de um pênis para nos sentirmos livres, alguns homens é que precisam do nosso brio e de nossa coragem para entenderem que até um pé na bunda nos leva para frente.


Belise Mofeoli é roteirista (animações, seriados, educativos e transmídia) e escritora de Literatura Infantojuvenil.

1 comentários:

Thais Roland said...

Eu amei o post! Poderia ler cada ramificação dessa discussão por horas! Muito bem colocado!

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