Wednesday, November 13, 2013

Como eu gosto do miojo

Todo mundo que tem uma convivência mais próxima comigo por alguns dias ou semanas sabe que eu não gosto de quebrar o miojo para cozinhar, a maioria das pessoas que conheço quebra o miojo, acho que fica mais fácil de mexer ou cozinhar, mas eu não, gosto do miojo inteiro.

O que isto tem a ver com amor ou relacionamento? É que eu tenho uma história sobre o miojo, ou melhor, sobre o modo como eu gosto que o meu miojo seja preparado, e até ontem eu não entendia a importância desta história, mas agora entendi completamente e minha ideia hoje é filosofar sobre ela.

Para contextualizar preciso explicar que estava junto com duas pessoas, vou nomeá-las de pessoa A(super íntima e que me conhecia muito bem) e pessoa B(me conhecia a pouco tempo).

Neste dia estava com fome e a coisa mais rápida para ser feita era um miojo, a pessoa A se ofereceu para fazer, eu escolhi o sabor (que a pessoa A até já sabia qual seria) e quando a água estava fervendo e a hora de colocar o miojo na panela chegou, a pessoa B avisou: não quebra o miojo da Liana que ela não gosta.
A pessoa A achou aquilo um absurdo, mas não se manifestou na hora, apenas comentou depois imitando com aquela voz de despeito que normalmente fazemos nestes casos "Não quebra o miojo da Liana que ela não gosta".

Eu achei graça, não via o motivo do despeito, nem porque isto poderia causar um desconforto, afinal, dezenas de pessoas que convivem comigo sabem que eu não gosto que quebre o miojo, não era nenhum segredo de alcova, passava longe de ser uma exclusividade, uma confissão.

Esta frase continuou sendo repetida com despeito pela pessoa A várias outras vezes e eu sempre achando graça, achando bonitinho esta materialização de ciúmes, porém nunca tinha realmente processado o que ela significava, para A e para B.

Como o mundo da voltas e pimenta no olho do outro é refresco, finalmente chegou a minha hora de sentir o que A sentiu.

Estava eu lá (agora eu era A, aquela pessoa íntima e que conhece muito a outra), em uma situação que não envolvia comida, mas sim modo de ser, quando a pessoa B solta uma frase no estilo "não quebra o miojo dela, ela não gosta" e aí senti (o que imagino que A tenha sentido aquele dia) o desconforto de estar ali, tendo que presenciar alguém que mal conhece a pessoa me ensinando a como lidar com ela e com os gostos dela.

Sim, a sensação foi terrível, foi um misto de raiva, um pouco(montão) de prepotência e uma vontade terrível de falar uns absurdos, mas é claro que não fiz isto, apenas adquiri mais uma somatização e a vida seguiu.

Ficou em mim aquela dúvida, qual o motivo das pessoas B fazerem coisas deste tipo, querer a qualquer custo mostrar uma intimidade que ainda não existe, baseada em uma constatação que até o cara da lanchonete aqui do lado sabe, afinal ele me vê cinco dias por semana e sabe muito da minha rotina, dos meus gostos. Ele mesmo poderia afirmar, sem ter um mínimo de intimidade comigo, que eu adoro pão de queijo e poderia falar isto com tanta propriedade que deixaria alguém muito íntimo até pensando que somos amigos ou algo mais.

Por outro lado, porque as pessoas A ficam com raiva disto? Eu sei, a pessoa do caso do miojo sabia também, que aquele conhecimento é raso, que não precisa me conhecer bem para descobrir isto. Só que mesmo assim incomoda.

Por que será que incomoda? Posse, exclusividade, ciúmes ou loucura????

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